D. José Miguel Pereira foi ordenado bispo da Guarda, na tarde do passado dia 16 de Março, na Sé Catedral. A celebração começou na Igreja da Misericórdia, com o cortejo em que participaram irmandades, acólitos, diáconos, padres e bispos.
O novo prelado, com 53 anos de idade e até agora reitor do Seminário Maior de Cristo Rei de Olivais (Lisboa), sucede a D. Manuel Felício.
D. Rui Valério, patriarca de Lisboa, foi o bispo ordenante principal, juntamente com os bispos ordenantes D. Manuel Clemente (cardeal patriarca emérito Cardeal de Lisboa) e D. Manuel Felício (administrador apostólico da Guarda).
Na cerimónia marcaram presença cerca de trinta bispos de praticamente todas as dioceses de Portugal, bem como o bispo de Ciudad Rodrigo, D. José Luis Retana.
O novo bispo reforçou o desejo de caminhar em conjunto com a comunidade. “Há uma linha definida que é: eu quero caminhar com as pessoas, quero ouvir as pessoas. Eu não me apresento como chefe do governo e defino as políticas que vão ser implementadas”, afirmou D. José Miguel Pereira ao “TB – Todas as Beiras”, numa longa entrevista que vai sendo publicada por partes durante os próximos dias.
“É preciso aprofundar o que já existe e rever o que precisa de ser revisto, mas isso é estruturante. Depois no concreto das medidas, vamos construir juntos”, sublinha.
Na entrevista, D. José Miguel Pereira diz que se apresenta “com a intenção de fazer Igreja e de fazer evangelização”. “Eu não quero defraudar expectativas mas também tenho consciência de que não vou corresponder a todas as expectativas”, admite.
“Uma coisa que aprendi no seminário e repeti como formador é de que quando um ministro ordenado chega à frente de uma comunidade não põe o letreiro à porta a dizer «abre com nova gerência» porque aquela comunidade já caminhava, já tem uma história e aquela comunidade vai continuar a caminhar depois de eu cá não estar. Eu não sou eterno na diocese da Guarda. É provável que até aos 75 anos esteja à frente da Diocese da Guarda mas eu vou passar e a Diocese da Guarda vai continuar”. “E, portanto, eu não tenho que deixar a minha marca. Não tenho que salvar a Diocese da Guarda. Isso é Nosso Senhor que salva. Agora, a Diocese da Guarda é o povo de Deus que caminha na Guarda com os seus pastores. E há muitos pastores que já cá estão há muitos anos a servir e eu vou aprender com eles”, salienta D. José Miguel Pereira.
E acrescenta: “Ao contrário de outros bispos, como D. Manuel Felício, que tiveram a hipótese de estar dois ou três anos a aprender o ministério episcopal antes de ficar à frente da Diocese da Guarda, eu vou chegar e assumir. Eu vou aprender a ser bispo com o povo de Deus da Guarda”.
“Creio que há uma expectativa muito grande de dar continuidade a uma reflexão sinodal, que se começou a fazer em 2017, produziu um documento de implementação em 2019 mas depois, seja por causa da pandemia ou da expectativa de mudança de bispo, ficou à espera, e portanto agora temos que voltar pegar e ver o que é que entretanto mudou “, adiantou.
«O Senhor é bom. O Senhor está próximo», é o lema episcopal do novo bispo. “Foi escolhido por mim em oração naquela semana entre ter ido à nunciatura (onde ficou a saber que tinha sido nomeado bispo) e a sua publicação, mas vem de trás porque vem da minha história. Neste Verão, foi para mim muito claro – e repeti-o muitas vezes em projectos e missões – de que é preciso afirmar com insistência que Deus é bom, é sempre bom, é muito bom e quando nós acharmos que não termina este ou aquele mal é porque a forma como nós queríamos que ele fizesse traria um mal maior”. “E Ele tira sempre um mal maior, mesmo daquelas coisas onde às vezes parece que Deus se ausentou. É importante acentuar isso porque às vezes as pessoas diante da perda, da fugacidade dos projectos, dos planos, pensam que Deus se esqueceu delas”, evidencia o novo bispo da Guarda.
D. José Miguel Barata Pereira nasceu em Lisboa, a 7 de Novembro de 1971. O pai é de Arraiolos e a mãe do Fundão. Tem uma irmã mais velha e dois irmãos mais novos. Era até agora reitor do Seminário Maior de Cristo Rei de Olivais (Lisboa).
Quando recebeu o telefonema da Nunciatura Apostólica, a 15 de Dezembro, foi “num misto de expectativa” que ali se deslocou no dia seguinte. “Foi num misto de expectativa e prudência porque dez anos antes também tinha recebido uma chamada – ainda era o outro Núncio Apostólico que lá estava – e quando cheguei ficou a saber que, na sequência de obras que estavam a ser feitas, havia dois armários que já não seriam necessários e portanto era para saberem se o seminário os queria receber”. Mas desta vez era para receber a noticia de que iria suceder a D. Manuel Felício.
“Como o meu nome andava por aí, eu tive tempo para ir rezando espiritualmente e ir conversando com o meu director espiritual se isso acontecesse como equacionar. Depois aconteceu-me também uma coisa que acho que Nosso Senhor me foi preparando: no Verão passado, por ser reitor, o Patriarca pediu-me que tivesse atenção a alguns aspectos da formação e na carta – todos os anos escrevia aquando do lançamento do novo ano – escolhi uma frase bíblica do livro dos Genesis, onde Deus diz a Abraão «levanta-te, deixa a tua família, deixa a tua casa e vai para a terra que eu te indicar»”, conta D. José Miguel, acrescentando que usou isso para “propor alguns desafios aos seminaristas e fui rezando isso durante os meses seguintes para mim, para os desafios da vida. «Ir para a terra que eu te indicar» não significa apenas geograficamente, significa às vezes habitarmos espaços que não nos são confortáveis” e ter “a liberdade interior para aceitar tudo aquilo que venha, se vier de Deus”.