O Teatro Municipal da Guarda, inaugurado em 25 de Abril de 2005, é o mais importante espaço cultural alguma vez construído na Guarda.
Pese embora a designação de Teatro Municipal, a verdade é que se trata de um equipamento cujo potencial ultrapassa, em muito, os âmbitos municipal, regional e até nacional, uma vez que nada fica a dever aos melhores que, do seu género, existem no País.
Não é uma obra megalómana mas sim uma infra-estrutura exigida pelas necessidades reais da Cidade e da Região face a uma intensa actividade cultural que, à época, existia na Cidade, no Concelho e na Região. Quedou-se a designação por “Teatro Municipal”, apenas e somente porque a sua concretização integrou, ao tempo, uma Rede Nacional de Teatros e Cine-Teatros Municipais, a nível nacional, com recurso a um Programa de Financiamento que impunha esta designação.
Trata-se de um equipamento da mais elevada qualidade arquitectónica e técnica, que veio dar resposta a um vazio completo que existia, na Cidade, para a promoção e divulgação da Cultura.
Ao mesmo tempo, a Câmara Municipal vinha, há pelo menos cerca de dez anos, desenvolvendo e concretizando, por todo o Concelho, uma política enraízadora de práticas culturais, em várias áreas temáticas, traduzindo-se essa acção numa, então, conhecida e reconhecida, contínua e crescente actividade em que o público, em geral e vários sectores sociais, em particular, intervinham, como participantes.
A sensibilização, a formação e a dinamização em escolas e colectividades, em áreas como o teatro, o cinema, a música, a etnografia e a dança, revelavam-se, constantemente, como acções indiciadoras de todo um vasto leque de programação que, persistentemente, ao longo dos anos, vinham movimentando pessoas e recursos em constante intercâmbio de conhecimentos e experiências.
A realização, a produção e a exibição de espectáculos eram acontecimentos permanentes que faziam uma Agenda Cultural que merecia o reconhecimento do público e da crítica, pela qualidade das suas propostas (sempre sob a égide do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal da Guarda, com Maria do Carmo Borges e Virgílio Bento e com a competência do animador cultural, Américo Rodrigues), qualidade essa que a guindava, sistematicamente, aos mais cimeiros lugares do panorama nacional das realizações culturais.
Com regularidade e frequência as publicações nacionais da área da Cultura traziam à luz notícias, artigos de opinião e referências elogiosas à Agenda Cultural da Guarda.
Lembro-me de um dia, em Coimbra, numa tertúlia, alguém responsável pela Cultura a nível nacional, me dizer que, por incrível que parecesse, era de maior qualidade o que se fazia na Guarda, em termos de Cultura, do que noutras Cidades de maior dimensão e de reconheci das tradições nessa área.
Atenta a necessidade de criar espaços físicos para receberem estas actividades, a Câmara Municipal instalou o Auditório Municipal, a Mediateca e Ludoteca, o Paço da Cultura, para além de ter dado um enorme contributo para a criação de espaços próprios onde as Juntas de Freguesia e as Associações Locais, passaram a levar a cabo as suas actividades Culturais, estando, ao tempo, em fase de conclusão outras duas importantes obras: a Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço e a Sede do Centro de Estudos Ibéricos.
No entanto, era cada vez mais notada, denunciada e verberada a inexistência de um equipamento, com dimensão, capacidade de espaço e aptidão técnica, para ser vir de “palco” a toda esta Programação Cultural.
A Câmara Municipal da Guarda, liderada pela Drª Maria do Carmo Borges, vi nha, com especial dedicação, desde 1999, apostando na concretização do Teatro Municipal da Guarda e nela colocou toda a atenção, daquele executivo camarário e do que lhe sucedeu, cujo mandato terminou em Outubro de 2005, envolvendo nesse esforço o Governo Central, de então, que correspondeu ao desafio.
A Guarda, foi, pois, distinguida, a nível nacional, como um dos seis primeiros Municípios que beneficiaram de um equipamento com as características do Teatro Municipal da Guarda. Para tanto, em 2001 a Câmara Municipal apresentou uma candidatura ao Programa Operacional da Cultura que foi aprovada com uma comparticipação do FEDER, suportando o Município o restante valor do investimento.
Lançado o concurso de ideias a obra foi adjudicada ao Arqtº Carlos Veloso que viria, mais tarde, a ver o projecto ser premiado a nível internacional.
Assim, em 25 de Abril de 2005, era inaugurado o Teatro Municipal da Guarda, com uma grande Sala de Espectáculos com capacidade para receber 600 espectadores e para ser palco de realizações da maior dimensão, como ópera, bailado, concertos e outros grandes eventos, nomeadamente congressos.
Integra ainda um auditório, com cerca de 160 lugares que, para além de teatro, oferece também cinema. Completa o espaço um Café Concerto e uma Galeria de Exposições, para além de estar dotado com Parque de Estacionamento próprio que serve também a Cidade.
O Teatro Municipal, para além da obra física passou a ser, após a sua inauguração, também obra humana, feita, portanto, de todos quantos a fizemos, a fazem e a continuarão a fazer enquanto houver, intra e inter, Cultura no nosso território espacial, social e humano.
Disso são vivo testemunho as centenas de espectáculos, oficinas, exposições, edições e outras realizações que afirmaram o Teatro Municipal da Guarda como grande motor Cultural da Região e do País.
O Teatro Municipal da Guarda, faz parte de um passado de vinte anos, é parte integrante do presente e será futuro porque é matriz de um valor indispensável da cidadania: a Cultura.
O Teatro Municipal da Guarda é obra conjunta, de todos quantos para ela contribuímos, que ainda não se encontra, – nem nunca se encontrará,- imaterialmente concluída e, por isso, os nomes de todos quantos nela, e para ela, colocaram o melhor do seu empenho sempre a ombrearão.
Hoje a Guarda, tantas vezes esquecida e crucificada pela sua “interioridade”, beneficia de um equipamento físico e humano que a distingue entre as maiores, na pro moção e divulgação da Cultura e da Guarda.
O tempo deu razão a todos quantos lutaram pela essencialidade da obra e desvendou a sem razão daqueles que, directa ou indirectamente, menosprezaram e menosprezam a sua importância.
No dia 10 de Junho de 2015, a Guarda contou com a nobreza e grandiosidade do seu Teatro Municipal, transformando-o no Salão Nobre de Portugal e dos Portugueses, para, na cerimónia oficial do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, ali evocar Camões, vulto maior da nossa Cultura.
No 25 de Abril de 2005, assistiu-me a subida honra de, então, na minha qualidade de Presidente da Câmara Municipal, conjuntamente com a, também então, Ministra da Cultura, Profª Drª. Isabel Pires de Lima, ter presidido à inauguração do Teatro Municipal da Guarda.
No discurso que proferi, no acto de Inauguração, citei o, em mim sempre presente, Prof. Eduardo Lourenço: “A ideia do Cultural como esfera autónoma e, sobretudo, como expressão sublimada e sublime da realidade humana é uma ideia moderna. É mesmo a essência da modernidade”.
O Teatro Municipal da Guarda é, e será, palco e espelho da nossa Cultura; o modelo adoptado para a sua gestão é, e será, o reflexo do conceito da “ideia do Cultural” que, em cada época, se vive. Churchill, em plena Segunda Guerra Mundial, interrogava o seu Ministro das Finanças “Então se reduzimos o orçamento da Cultura por que é que estamos em guerra?”.
O Teatro Municipal da Guarda é e será sempre património cultural da Guarda e dos Guardenses, porque a Cultura de um povo é o único bem que não é passível de ser privatizado.
Evoco, pois, aqui, com o maior respeito, o vigésimo aniversário do Teatro Municipal da Guarda e saúdo todos quantos contribuíram e querem contribuir para que esta obra seja, como é, verdadeiro ex libris cultural da Guarda.
Álvaro Pereira Guerreiro, ex autarca da Câmara da Guarda