Sexta-feira, 1 Agosto, 2025
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O voo das cegonhas

Ontem à hora de jantar vi cegonhas a sobrevoar a Guarda.
Vi-as da minha varanda, numa visão nunca tida, talvez por ser a mesma coisa rara, ou nunca me ter dado conta que tal tivesse acontecido no centro da cidade.
Durante minutos deixei-me embalar pela coreografia que executavam nos seus voos e o seu repouso, nas árvores grandes que persistem no Dispensário ou nas modernas antenas que se elevam nos prédios mais altos ao redor do Largo de São João, onde a estátua de Augusto Gil se destaca.
Ali no meio, tão perto do belo espetáculo, talvez o espírito do poeta se tenha surpreendido (ou não) com a inusitada visita das aves e o seu bailado, num entardecer quente, de verão, já que elas batiam “leve, levemente” as grandes asas.
Seria esta uma ocasião para recordar dois versos da sua “Toada para as mães acalentarem os filhos” e adaptá-los a estes tempos, (…) Bate as azas, mas ao voares, Não me apagues esta estrella” (…) como escrevia nela o poeta .
“Olho através da vidraça” e num devaneio, infantil, arrisco pensar que trazem elas, nos seus bicos, para deixar ali, à entrada da cidade, naquela maternidade tantas vezes maltratada por quem da política faz vida, bons candidatos para as próximas eleições autárquicas.
Candidatos daqueles que apresentam mais do que livros, boas intenções, promessas vãs,
inaugurações avulsas e auto promocionais, a par de currículos feitos de carreira política
recheados de nomeações quase nunca alcançadas por mérito.
Horas antes, em conversa, diziam-me que todas as candidaturas somadas não dariam o
presidente e restante executivo que a Guarda merecia.
Voltei ao poeta Augusto Gil… Ai a poesia, sempre a poesia e lembrei-me destes dois recados:
“(…)Palavras são palavras… Nada dizem.
Teias d’aranha que jámais impedem
Que as ideias se escapem e deslizem…”
“(…)Andaremos à mercê
Dos genios bons, e dos falsos,
Leguas e leguas a pé,
Rotinhos, magros, descalços…

Nota: Para além do poema citado as restantes transcrições pertencem aos poemas “Balada da Neve e Meditações sobre Themas do Ecclesiastes” do livro Luar de janeiro de 1909.

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