A generalidade dos aquedutos que existem em Portugal estão abandonados e precisam de ser restaurados. O alerta foi feito por Pedro Inácio, museólogo e investigador na área do Património Cultural da Água, e autor da exposição fotográfica “Aquedutos de Portugal – Água e Património” que, desde Quinta-feira e até 5 de Junho, pode ser apreciada na Galeria Espaço #4, do Museu da Guarda.
No entender de Pedro Inácio, «a generalidade dos aquedutos estão abandonados», mas «alguns estão cuidados e mesmo restaurados e outros estão preservados, não em termos de reutilização porque a água já não é transportada como seria feito originalmente mas estão erguidos e de alguma forma são monumentos que podem ser apreciados». O investigador informa que este património está sob a alçada de várias tutelas, nomeadamente do Ministério da Cultura, dos municípios, de particulares, da Igreja e de algumas empresas, como por exemplo a EPAL – Empresa Pública de Águas Livres, responsável por dois aquedutos, o de Águas Livres e o de Alviela que tem quase 14 quilómetros de extensão.



Através das 21 fotos patentes na exposição é possível evidenciar alguns dos aquedutos mais carismáticos localizados em Portugal, edificados sobretudo entre os séculos XVI e XIX, quatro dos quais foram classificados pela UNESCO como bens culturais no domínio do Património Mundial: Água de Prata (Évora), Pegões (Tomar), Amoreira (Elvas) e Jardim do Cerco (Mafra).
As imagens que integram a mostra resultam do levantamento fotográfico e do trabalho de inventário, iniciado em 2007, dedicado aos antigos aquedutos portugueses, desde do século I. d.C até ao século XIX, e que culminou com a edição do livro “Património Cultural da Água – Roteiro de Aquedutos”, editado em 2011, pela Câmara Municipal de Mafra e apoiado, institucionalmente, pela Comissão Nacional da UNESCO e pelo Museu da Água da EPAL.
«O objectivo deste meu trabalho é dar seguimento a um espírito que começa numa paixão sentida por este tipo de património porque o seu valor é incalculável», refere Pedro Inácio, que alerta que «maioritariamente estes aquedutos precisavam de ser restaurados». «Há um trabalho imenso que vai ser continuado por outros que virão depois de mim, com certeza para zelar e preservar este importantíssimo património», afirma convictamente o investigador.
A referência aos antigos aquedutos portugueses, associados aos tradicionais sistemas de abastecimento de água, permite evidenciar vários processos hidráulicos consubstanciados na captação, adução, armazenamento e distribuição de água para consumo humano. O viajante francês Ferdinand Denis (1798-1890), após visitar Portugal em meados do século XIX, apelidou-o como “o país dos aquedutos”.
Em Portugal há pelo menos 42 aquedutos, dos quais 15 construídos para abastecimento público de água e 26 para abastecimento privado, «embora em alguns momentos do seu trajecto tivesse de respeitar que houvesse concessão para chafarizes públicos”, afirmou Pedro Inácio à agência Lusa, em Outubro de 2021.
Lisboa, com 12 exemplares destas construções destinadas ao transporte e distribuição de água é o distrito do país com mais aquedutos, mas, segundo Pedro Inácio, «o aqueduto dos Arcos, em Setúbal, é aquele que os estudos apontam como tendo sido o primeiro a ser construído em Portugal», estimando-se que tenha entrado em funcionamento no ano 1.500.
Aquando da inauguração da exposição na Guarda, Pedro Inácio evidenciou que um dos aquedutos que merece destaque é o de Vila do Conde por ser o que tem «o maior número de arcos do mundo», apresentando 999 ao longo da sua extensão, que termina no Mosteiro de Santa Clara, bem como o aqueduto de Conímbriga, construído durante o império Romano. Evidenciou igualmente as obras hidráulicas classificadas como Património Mundial (nomeadamente em Elvas, Évora, Mafra e Tomar), bem como o aqueduto das Águas Livres, em Lisboa, por ter o mais alto arco do mundo, construído em pedra, com «65 metros de altura. Na mostra é possível também apreciar o aqueduto de Alviela, que é o maior aqueduto gravítico de Portugal, com 114 quilómetros de extensão, construído em 1880 para reforçar o abastecimento de água à cidade de Lisboa, trazendo-a desde Alcanena.