Vaca jarmelista, cavalo lusitano, burro mirandês, lince, pato real, javali e até um cágado poderão futuramente ser alguns dos cerca de uma centena de animais que vão habitar na Quinta da Maúnça, situada a poucos quilómetros do centro da Guarda. Tudo isto pode ser uma realidade se se concretizar o futuro Parque Biológico da Maúnça, cujo anteprojecto deverá ser discutido e submetido à aprovação na reunião do executivo municipal da Guarda, agendada para o final da tarde desta Terça-feira. A concretização deste projecto ficará depois dependente do apoio de fundos comunitários.
Como é referido no documento elaborado pela empresa “S² Projetos e Construção”, a que o jornal “Todas as Beiras” teve acesso, «a Quinta da Maunça tem as condições ideais para acolher um projecto inovador, diferenciador e verdadeiramente estimulante do ponto de vista científico, de responsabilidade social, ambiental, lúdico e de desenvolvimento regional», adiantando que o Parque Biológico, previsto ser desenvolvido em várias fases, «não será apenas um refúgio seguro para a fauna e flora endémicas, mas também um espaço onde a natureza se encontrará com a cultura, a educação e o lazer».
Como se pode ler no anteprojecto, estão previstas diversas estruturas, entre as quais, um parque de caravanismo, “bungalows” – parque de arborismo, parque de merendas e parque infantil. Está previsto também surgirem espaços de investigação e educação, através da criação de programas de investigação e educação ambiental, como por exemplo um centro interpretativo de uma espécie autóctone, espaços de desenvolvimento de pesquisa e centro de educação ambiental.
Quinta da Maúnça foi adquirida em 1980 pela Imoguarda (Município da Guarda e UGT)
De recordar que a Quinta da Maúnça foi adquirida há cerca de 45 anos pela Imoguarda, sociedade constituída pela Câmara da Guarda e pela União Geral de Trabalhadores (UGT), através da SINPAR (sociedade detida pela UGT), tendo em vista fazer um investimento turístico. Uma pretensão que ficou preto no branco no Plano Director Municipal. Aquele espaço ficaria destinado ao turismo, lazer, desporto, habitação de qualidade (tipo aldeamento turístico).
Em 2002 viria a surgir o Espaço Educativo Florestal (EEF), que nessa altura ocupava apenas oito dos 74 hectares da Quinta da Maúnça, metade dos quais com reflorestação. O Espaço englobava ainda as hortas de produção biológica, prado de lima e charca, campo de demonstração de plantas aromáticas e medicinais, estruturas de compostagem, viveiro florestal, parque de merendas e dois edifícios de apoio.
O EEF tinha como principais objectivos permitir às escolas o desenvolvimento de projectos em redes educativas na área da conservação da natureza e valorização da floresta autóctone e das temáticas de ambiente em geral; promover a conservação da biodiversidade autóctone, nas suas componentes genética e ecológica; constituir um espaço de recuperação e produção de espécies autóctones; desenvolver programas, estudos e investigação na área ambiental. Tinha ainda como finalidade criar programas conjuntos com o Instituto do Ambiente, Instituto de Conservação da Natureza e Quercus, para rearborização de zonas ardidas e com perigo de desertificação ou erosão máxima, contando com a participação das escolas.
Contudo, ressalva, tratava-se apenas de uma primeira fase. Em 2001, os ambientalistas aguardavam que as restantes fases do projecto previsto para a EEF, considerado inédito em Portugal, prosseguisse. Mas a possível venda de uma grande parte da Quinta ao Grupo Costa Pais, da Covilhã, poderia vir a dificultar essa pretensão. A proposta previa a venda daquele espaço, com cerca de 71 mil metros quadrados, por 120 mil contos. O Grupo Costa Pais teria de entregar cinco hectares do terreno à Sinpar e um hectare à Câmara da Guarda. A possível venda da maioria dos 76 hectares da Quinta da Maúnça provocou celeuma e o negócio caiu por terra.
Passados alguns anos, a Quinta da Maúnça chegou a ser apontada como uma das possíveis localizações de um pavilhão multiusos. Em 2021, foi disponibilizado à Acriguarda – Associação de Criadores de Ruminantes e de Produtores Florestais do Concelho da Guarda, por 50 anos, uma parte do terreno, com cerca de 13.500 metros quadrados, para desenvolver um centro de exposições de gado.