Domingo, 29 Junho, 2025
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Sem limites para o humor

A prova que o humor é uma arma poderosa é a tentativa de lhe imporem limites. Não a todos os tipos de humor, obviamente. É que a diferença entre humor e piada é abissal, sendo que nesta última tudo é permitido: sotaque, maneirismos, capacidade intelectual de certas raças ou etnias. O alvo a abater é o humor de observação, que expõe a falta de senso, de civismo, do ridículo, do racismo estruturante grudado na nossa sociedade.

Os limites do humor é uma das questões que mais me encanita os nervos precisamente porque se criticam os mesmos temas que roubam gargalhadas nas piadas à “Levanta-te e Ri” ou “Malucos do Riso”. As piadas racistas, xenófobas, homofóbicas, machistas e misóginas não passam de piadas. O humor que expõe todos estes perigosos fenómenos é falta de educação, nas críticas mais fofinhas. Outras, desejam a morte ao humorista, má sorte para a família, doenças incuráveis, sempre complementadas de um vernáculo característico de pessoas desprovidos de bom senso.

E os limites da má educação, da violência, do drama, da má informação, da utilização de telemóveis, tablets ou colunas de som com um volume absurdo em sítios públicos, do excesso de programas sobre futebol, de artistas que assassinam a música, entre, infelizmente, tantos outros exemplos?

A liberdade de expressão é um direito, responderão. Sim, é um direito, mas só para o que convém?

Os limites do humor existem sim. Desde logo do criador do conteúdo, que pode optar por dizer “piadas brejeiras” ou pelo humor negro. Depois, pelo ouvinte ou espectador: não gosta, não segue. Escolha simples. Acha exagerado esse tipo de humor, opta por aquele que não fere as suas dúbias suscetibilidades. Tem esse direito, não tem direito é a ameaçar de morte o humorista, como já aconteceu com tantos neste país.

Vem esta crónica a propósito do julgamento que opõe os Anjos e Joana Marques. Os irmãos Rosado, que exigem mais de um milhão de euros, alegam danos pessoais e profissionais, incluindo o cancelamento de concertos, por conta de um vídeo humorístico que visava a dupla partilhado nas redes sociais pela humorista Joana Marques. Em causa está a interpretação do Hino no arranque de uma prova de MotoGP, em 2022.

A minha dúvida nesta alegação dos Anjos é muito simples: o cancelamento dos concertos foi devido ao vídeo humorístico de Joana Marques ou à mudança de percepção da qualidade musical dos queixosos?

Ao Tribunal cabe a dura tarefa de tomar uma decisão que marcará o futuro do humor em Portugal. O que espero é que a sentença não seja uma piada de mau gosto.

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