Segunda-feira, 5 Maio, 2025
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Francisco

No sábado, o mundo despediu-se de Jorge Mario Bergoglio, Papa desde 2013 até 2025 que escolheu o simbólico nome de Francisco.

Faleceu na passada segunda-feira, 21 de abril de 2025, após meses de uma fragilidade física cada vez mais evidente.

Até na morte, o fez à sua maneira. Durante os trinta e oito dias em que já este ano esteve internado no Hospital Gemelli, a cobertura jornalística foi diária e intensa. Recuperou, teve alta médica e regressou ao Vaticano. No domingo de Páscoa, inesperadamente, surgiu de viva voz – ainda que visivelmente debilitado – a desejar Boa Páscoa. No dia seguinte, sem que ninguém estivesse a contar, o mundo recebeu a notícia da sua morte.

O Papa que o Conclave “foi buscar quase ao fim do mundo”, como o próprio disse, tornou-se uma figura central do nosso mundo nos últimos doze anos. Figura central, mas que encurtou distâncias para as periferias. Periferias várias. Periferia geográfica, dedicando-se à Igreja nas latitudes latino-americana, asiática e africana. Periferia humana, com especial atenção aos marginalizados e excluídos. Basta lembrar que a sua primeira viagem enquanto Papa foi a Lampedusa, ilha italiana que recebe milhares de migrantes todos os anos.

Um Papa humilde, empático e carinhoso que, na sua simplicidade desconcertante, se tornou uma figura muitíssimo popular. Um homem do povo e com um percurso de vida na Argentina que o comprova absolutamente, fervoroso fã de futebol e um homem de ação. Nas palavras de João Marques de Almeida no podcast Fora do Baralho do Observador, uma figura pop ou, numa outra expressão que quer dizer o mesmo, um Papa com aura.

Esta imagem granjeou-lhe muitos seguidores, entre católicos e não católicos, inclusivamente de outras religiões, agnósticos e ateus. E Francisco utilizou esta projeção a seu favor, em muitos domínios. Dedicou muita energia e atenção à paz, apesar de um mundo em que eclodiram e se perpetuam vários conflitos. É assinalável, de tão simples mas significativa, a chamada diária para a paróquia de Gaza desde o início do conflito em outubro de 2023.

De entre esta atividade, intensa e imensa, Portugal ficará sempre marcado e como uma marca deste Papado. As Jornadas Mundiais da Juventude, realizadas em Portugal em 2023, constituem um momento fundamental que perdurará na memória do país e de todos quantos participaram.

Participei neste encontro mundial de jovens enquanto voluntário de saúde. Foi uma experiência extraordinária, um momento único que guardarei para toda a vida. Recordo sobretudo a vigília no Parque Tejo, na noite de 5 de agosto de 2023 e uma frase particular do discurso do Papa Francisco, amplamente conhecida e que é de uma beleza extraordinária:

O único momento em que é lícito olhar uma pessoa de cima para baixo: quando queremos ajudá-la a levantar-se.

Francisco, um sinal de esperança para todos os que acreditam num mundo tolerante, dialogante e que coloca a dignidade humana ao centro, parte num momento particularmente crítico para a humanidade. Mais do que as reformas que procurou, com muitas resistências,impulsionar na Igreja – e cujos resultados já não verá – a sua mensagem, que inspirou milhões de pessoas, poderá ser o seu mais marcante e duradouro legado.

*José Rodrigues é mestre em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (2015-2021), membro da Assembleia Municipal da Guarda (mandato 2021-2025), Interno de Formação Especializada em Ortopedia na ULS de Coimbra (2923) e actualmente é assistente convidado de Introdução à Clínica na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Integra, desde 2023, o Conselho Nacional do Médico Interno da Ordem dos Médicos.

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