Quarta-feira, 14 Maio, 2025
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Portugal perde o Rumo? Porque os melhores se afastam da política e o país perde o rumo

Num tempo em que Portugal enfrenta desafios sociais e económicos profundos, cresce a sensação de que os melhores quadros da sociedade estão afastados da vida política. Profissionais qualificados, académicos, gestores e jovens com ideias recusam envolver-se. A política, antes entendida como uma missão nobre de serviço público, tornou-se um território de desconfiança, exposição excessiva e frustração.

Segundo o Eurobarómetro de 2024, apenas 21% dos portugueses confiam nos partidos políticos — um dos níveis mais baixos da União Europeia. Esta erosão da confiança não é recente, mas tem vindo a agravar-se com escândalos sucessivos, promessas por cumprir e uma perceção generalizada de que os partidos se tornaram estruturas fechadas sobre si mesmas. Como escreveu José Gil, “Portugal vive num estado de não-inscrição: os cidadãos não se sentem inscritos no projeto político comum”.

O espaço público é hoje dominado por populismos, por discursos identitários repetitivos e por um ruído mediático constante. Há causas que, embora justas, monopolizam o debate em detrimento dos grandes problemas estruturais: habitação, saúde, economia, mobilidade e justiça social. De acordo com o INE, mais de 50% dos jovens adultos vivem com os pais, sem capacidade para comprar ou arrendar casa. No Serviço Nacional de Saúde, faltam mais de 3.000 médicos de família, e os enfermeiros continuam a emigrar a ritmos preocupantes. As forças de segurança e os militares enfrentam há anos carências salariais e operacionais. A classe média jovem — qualificada, produtiva e fiscalmente sobrecarregada — sente-se cada vez mais invisível.

Enquanto isso, muitos dos que ocupam cargos de decisão são promovidos não pelo mérito ou pela experiência, mas por lógicas internas de partido. Os chamados “cartilheiros do regime” dominam estruturas, impõem cartilhas e afastam quem pensa de forma autónoma. Isto cria um ciclo vicioso: os mais competentes afastam-se, os mais obedientes sobem, e a qualidade da governação degrada-se. Como alertou o filósofo Daniel Innerarity, “as democracias estão em risco quando a competência se afasta da política”.

E onde está a sociedade civil? Na sua maioria, desmobilizada. O associativismo perdeu força, a academia observa à distância, e as organizações profissionais raramente ocupam um papel relevante no debate estratégico nacional. Esta ausência é perigosa: se os melhores não participam, a democracia corrói-se por dentro.

É urgente recentrar o país. Governar ao centro não significa neutralidade ou ausência de convicção. Significa responsabilidade, equilíbrio, visão e coragem para resolver os problemas centrais com pragmatismo. Implica proteger minorias, sim, mas sem esquecer as maiorias silenciosas — professores, profissionais de saúde, forças de segurança, jovens da classe média e trabalhadores que sustentam a economia e o Estado social.

Portugal precisa de reencontrar-se com a ideia de bem comum. De devolver prestígio ao serviço público e à política séria. De construir políticas públicas assentes em evidência e não em slogans. E, acima de tudo, de recuperar a confiança daqueles que, todos os dias, fazem o país avançar.

Porque sem eles, Portugal perde o rumo.




Nuno Silva reforça, a partir de hoje, a equipa de colaboradores do jornal digital “Todas as Beiras”. Tem 46 anos, licenciado em Gestão, tem diversas pós-graduações, entre as quais em Gestão e Direção de Segurança, é presidente do conselho de administração do Grupo COMWORK e sócio de: Comunilog Consulting, Webiq Business Solutions, Comunilog Global Business e Gesto Apreciativo. Nuno Silva é membro do Conselho para a Avaliação e Qualidade do Instituto Politécnico da Guarda e membro da Comissão Instaladora da Associação Nacional de Networking, Empreendedorismo, Inovação e Desenvolvimento Empresarial. Já foi director geral da Ensiguarda – Escola Profissional da Guarda, bem como presidente a Associação Académica da Guarda e vice-presidente da Associação de Comércio e Serviços da Guarda. Também chegou a ser líder da Federação Distrital da Juventude Socialista da Guarda e vereador do PS no Município de Almeida

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