Terça-feira, 29 Abril, 2025
Google search engine
InícioPoliticaOs valores de Abril, o que está ainda por fazer e o...

Os valores de Abril, o que está ainda por fazer e o adiamento de iniciativas para celebrar a “Revolução dos Cravos” fizeram parte dos discursos da sessão solene comemorativa na Guarda

Foram poucos os que se apresentaram esta manhã, na Guarda, na sessão solene comemorativa do 25 de Abril munidos de um cravo vermelho. A flor, que é um dos símbolos da “Revolução”, foi substituída por um “pin” dos 50 anos do 25 de Abril. Nesta sessão, na qual foram homenageadas as 43 Juntas de Freguesia do concelho com a atribuição da Medalha de Honra do Município, o historiador João Avelãs Nunes, docente da Universidade de Coimbra, falou sobre o papel do poder local. Esta cerimónia contou com outro convidado especial, o secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território, Silvério Regalado.

Logo no início da sessão foi cumprido um minuto de silêncio em memória do Papa Francisco, que faleceu na passada Segunda-feira. Como era de prever, nos discursos dos vários intervenientes foram destacadas as conquistas de Abril e relembrados os objectivos da “Revolução dos Cravos” que ainda estão por cumprir, desde a saúde de qualidade acessível a todos, igualdade salarial para homens e mulheres, um sistema político cada vez mais equitativo e habitação para todos.

O presidente da autarquia, Sérgio Costa, lembrou no seu discurso que Abril se constrói todos os dias com políticas que respeitem as pessoas e cuidam dos territórios. Aproveitou também para enumerar as obras que estão em curso e as que estão previstas, bem como criticar a oposição por não aprovar os dois empréstimos financeiros que o executivo solicitou para suportar alguns projectos.

O presidente da Mesa da Assembleia Municipal, José Relva, deu como exemplo um missionário português, que, não sendo político, se preocupava com a alimentação e a saúde dos paroquianos, para sustentar que «mais obrigação tem um político» para ter esse tipo de postura. Ao terminar o seu discurso, defendeu que um político que exerce funções de governação deve deixar a situação melhor do que quando a encontrou.

Cláudia Guedes (CDS) sustentou que, nestes tempos de correria, «há apressados datas que se mantêm firmes, como rochedos em mar revolto, que se recusam a ser arrastadas pela corrente» e que «o 25 de Abril é uma dessas datas».


E o facto de terem sido canceladas «algumas festividades», levou-a a questionar se «alguém acredita, em plena posse das suas faculdades históricas, que o 25 de Abril pode ser cancelado». Na sua opinião, «cancelar Abril é como tentar impedir a primavera de florescer. É como tentar apagar um incêndio com um copo de água. O 25 de Abril não se cancela — não por teimosia, mas por natureza. Ele nasceu do grito de quem se recusou a viver sem liberdade, da coragem de quem, mesmo tendo tudo a perder, se levantou para exigir um futuro melhor. Ele não está à venda, nem em saldo, nem em liquidação. Não é algo que se possa arquivar numa gaveta de um qualquer armário empoeirado».

«É uma vida, ou o tempo de várias. E é precisamente por isso que, hoje, perante uma geração que já nasceu com os direitos garantidos (ou quase), que já diz o que pensa sem temer censura, que já pode abrir a boca sem medo da “polícia da palavra”, temos um dever urgente. Não é um dever de antiguidade ou de tradição — é um dever de responsabilidade. Temos que falar com os jovens. Com sinceridade, com humor, com paixão. Sem paternalismo, sem palmadinhas nas costas, sem discursos do tipo “no meu tempo é que era”», defende a centrista.

Na sua opinião, «recontar o 25 de Abril, hoje, não é saudosismo — é resistência. É lucidez. É plantar cravos na consciência de quem ainda não os viu florescer. É garantir que os jovens saibam que o futuro começa por lembrar o passado — não por o repetir, mas por dele aprender».

O deputado socialista Miguel Borges não deixou passar em branco o facto de terem sido adiadas algumas iniciativas por causa do luto nacional em memória do Papa. «Embora compreendamos o gesto simbólico e solenidade do momento, não podemos calar a inquietação que nos deixa o cancelamento de algumas das celebrações do 25 de Abril», afirmou. Na sua opinião, Francisco, que «foi o Papa da inclusão, da justiça social, valores que se confundem com os de Abril, teria compreendido seguramente que a melhor forma de o homenagear seria manter viva a chama da liberdade». «Abril não se adia, não se suspende, não se empurra para depois, porque a liberdade não conhece calendário e a democracia não se honra com cancelamentos, celebra-se com presença, com voz e coragem», sustentou.

Bárbara Xavier, do Bloco de Esquerda recordou a importância do 25 de Abril, «que deu a voz ao povo e pôs fim à guerra colonial» e evidenciou os valores de Abril.

O social-democrata Ricardo Neves de Sousa destacou, por seu lado, a importância das autarquias que «trouxeram dignidade a muitas comunidades», desde a água canalizada à luz eléctrica. ««A democracia local é, assim, um dos legados mais valiosos do 25 de Abril. É através dela que se concretizam muitas das promessas da Revolução: a proximidade, a participação, a solidariedade e o progresso», salientou.

Para José Valbom (movimento Pela Guarda), «falar do 25 de Abril é também falar do Interior», refere o deputado, acrescentando que «quatro quintos do Interior é de despovoamento, êxodo das populações e declínio demográfico». «Falar do 25 de Abril é também falar democracia representativa», disse José Valbom, que criticou o facto de «dos 230 deputados a eleger 190 já estão eleitos», concluindo que «o povo escolhe 40». «Mais de um milhão de votos, cerca de 20 por cento do total são desperdiçados pelo sistema eleitoral», salientou, concluindo que «na prática o povo não tem direito à sua representatividade, pese embora tenha votado». E realçou que «são os distritos do Interior os mais penalizados». E questiona «para quando uma reforma do sistema eleitoral, com a criação dos círculos uninominais e círculos de compensação que permitam corrigir esta desigualdade».

Artigos Relacionados
- Advertisment -
Google search engine

Artigos mais populares