O deputado social-democrata Ricardo Neves de Sousa deu hoje a entender que o PSD não deverá apoiar a recandidatura do actual autarca Sérgio Costa, do movimento independente “Pela Guarda”, eleito em 2021. Na intervenção feita ao final da manhã na reunião da Assembleia Municipal da Guarda, o deputado afirmou que «o PSD não pode deixar de fazer um balanço sério, justo e responsável da governação do município nos últimos quatro anos» e o partido concluíu que «foi um mandato marcado pela desilusão, pela instabilidade e por uma governação centrada mais na imagem do presidente do que no futuro da Guarda».
«Foi um mandato de personalismo excessivo, onde a Câmara se confundiu com a vontade de um só homem. Onde a crítica foi tratada como afronta, e o contraditório como ameaça. Onde a política deixou de ser um espaço de construção colectiva para se transformar num espelho vaidoso ao serviço do ego presidencial», adiantou Ricardo Neves de Sousa.
E considera mesmo que «a Guarda tem sido gerida nos últimos anos por uma lógica de propaganda», em que «as redes sociais da autarquia transformaram-se num instrumento pessoal de promoção do presidente». «Mas o que se publica online não tapa os buracos das ruas, não requalifica os bairros, nem devolve vitalidade ao comércio local», lamenta o deputado.
E foi mais longe ao afirmar que «surgiram, ao longo do mandato, denúncias de alegado favorecimento político em concursos, suspeitas de clientelismo e um ambiente laboral deteriorado. O mediáticos processos judiciais assim o atestam». «Sabemos que há trabalhadores que não se sentem respeitados, que há cidadãos que se sentem excluídos e que a confiança na imparcialidade da gestão municipal foi abalada», acrescentou.
O social-democrata considera que «sempre que a realidade se impôs – dura, factual e incómoda – o presidente escolheu o papel de vítima. Apresentou-se como injustiçado, incompreendido, quase um herói trágico da política local. Mas convenhamos: ninguém leva a sério esse teatro. Os guardenses não se comovem com lamentos fabricados nem se deixam embalar por encenações de mártir. Sabem perfeitamente que quem se vitimiza para fugir à responsabilidade, fá-lo porque não tem obra com que se defender».
Quase a terminar a intervenção, Ricardo Neves de Sousa sustentou que «a Guarda precisa de mais do que voluntarismo e marketing. Precisa de um projecto sólido, de uma equipa preparada, de um rumo claro. Precisa de uma Câmara que una, que ouça e que governe com todos e para todos». E evidenciou que «é essa alternativa que o PSD se prepara para apresentar. Com humildade, com trabalho e com compromisso. Sem ruídos, sem folclores, mas com a certeza de que a Guarda merece mais».
Sérgio Costa não sabe que «bicho mordeu» ao deputado do PSD para mudar de discurso
Em resposta, Sérgio Costa recordou que o deputado Ricardo Neves de Sousa tinha feito «um grande discurso» na anterior reunião da Assembleia Municipal. «Não sei que bicho lhe mordeu e virou completamente», disse o autarca, que estranhou esta mudança de postura. Quanto à crítica de que não tem obra para se ver, Sérgio Costa considera que isso não passa de «um ensaio sobre a cegueira», recordando que o PSD chumbou os empréstimos e os orçamentos.
Quanto à acusação de «favorecimento político», Sérgio Costa não esteve com meias medidas e exigiu ao deputado um pedido de desculpas ou, caso contrário, «terá que apresentar uma queixa formal no Tribunal da Guarda». O autarca deixou claro que não admite que lhe levantem «falsos testemunhos».